O Brasil, na verdade, são dois países muito distintos em mentalidade. Dois países separados, num verdadeiro apartheid cultural. O que está em jogo são valores em conflito, e, por conseguinte, uma sociedade em conflito. Enquanto a classe baixa defende valores que tendem lentamente a morrer ou a se enfraquecer, a classe alta mantém-se alinhada a muitos dos princípios sociais dominantes nos países já desenvolvidos.
Não há um lado certo e outro errado. Há, sim, um lado dominante em lenta erosão – o das classes baixas -, e outro ainda pouco presente, mas que tende a se fortalecer à medida que a escolaridade média da população aumentar. Sim, porque entre os fatores que determinam esse abismo entre brasileiros, um dos mais importantes é a escolaridade. É a educação que comanda a mentalidade.
Quem passou pelos bancos escolares de uma universidade e obteve diploma tende a ser uma pessoa moderna: impessoal; contra o jeitinho brasileiro; contra punições ilegais, como linchamento e o estupro, na cadeia, de criminosos condenados pelo mesmo crime; refratária à crença de que o destino está completamente nas mãos de Deus; e a favor de confiar mais nos amigos.
No entanto, como a maior parte da população brasileira tem escolaridade baixa, pode-se afirmar que o Brasil é arcaico. Assim, a mentalidade de grande parte de sua população obedecerá às seguintes características:
• Apoia o “jeitinho brasileiro”;
• É hierárquico;
• É patrimonialista;
• É fatalista;
• Não confia nos amigos;
• Não tem espírito público;
• Defende a “lei de Talião”;
• É contra o liberalismo sexual;
• É a favor de mais intervenção do Estado na economia;
• É a favor da censura;
Óbvio, não?
Não. Não tão obvio assim. Trata-se de probabilidades que valem para um amplo leque de questões. De sexo à corrupção, passando por uma crença fatalista no destino, é bem provável que alguém com curso superior completo seja a favor de práticas sexuais variadas, ou de sexo entre pessoas do mesmo gênero, e se escandalize quando denúncias de corrupção de políticos, muitas delas comprovadas, são “esquecidas” pela população que acaba reelegendo os denunciados.
O contrário também é verdadeiro. Para a população de baixa escolaridade que apoia a quebra de regras patrocinadas pelo “jeitinho brasileiro”, há também uma tendência em mostrar-se tolerante com a corrupção. Para muitas dessas pessoas, não há “esquecimento” das denúncias; elas simplesmente não são importantes. Da mesma forma, também é grande a probabilidade de encontramos nesse grupo opiniões contrarias a quaisquer variações do ato sexual, limitando ao sexo genital entre um homem e uma mulher.
É essa a conclusão que se pode tirar; a enorme distância que separa – em termos de visão de mundo, mentalidade, cultura – os dois grupos sociais em que nós, brasileiros, nos dividimos. Somos diferentes em tudo.
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