Nas décadas de 1990 e 2000, as tendencias fluíam do Oeste para o Leste, no transplante de modelos econômicos e políticos, na difusão da língua inglesa e na ampliação da União Europeia e da OTAN (Organização do Tratado do Atlantico Norte). Espaços desregulados do capitalismo norte-americano e europeu convidavam os russos ricos para um reino que não levava em conta a divisão geográfica entre Oriente e Ocidente – o que importava eram as polpudas contas bancárias offshore, das empresas de fachada e das negociatas anônimas, onde a riqueza roubada do povo russo era lavada. À medida que a exceção das obscuras transações offshore se tornavam regra e a ficção política da Rússia alcançava penetração fora das suas fronteiras.
Em As guerras de
Peloponeso, Tucídides definiu “oligarquia” como o domínio de poucos, opondo-a
à “democracia”. Para Tucídides, “oligarquia” significava um governo de poucos
e ricos; a palavra nesse sentido ganhou vida novamente na língua russa nos
anos 1990, e em seguida, com boas razões, na língua inglesa nos anos 2010.
Conceitos e práticas
passavam do Leste para Oeste. Exemplo disso é a palavra “fake” (falsa), como
na expressão “Fake News”.
Parece invenção
norte-americana, e Donald Trump a reivindica; mas o termo era usado na Rússia
e na Ucrânia bem antes de começar a sua carreira nos Estados Unidos.
Significava criar um texto fictício que posava como jornalismo, com o duplo
objetivo, espalhar confusão a respeito de determinado acontecimento e de desacreditar
o jornalismo como um todo. Assim aconteceu também no Brasil. Os partidários da
extrema-direita primeiro se incumbiram, eles próprios, de espalhar fake news,
depois passaram a alegar que toda notícia que vem da imprensa é falsa, e por
fim que só seus espetáculos são reais. A campanha russa para inundar de ficção
a esfera pública internacional começou na Ucrânia em 2014 e depois se espalhou
pelos Estados Unidos em 2015, onde ajudou a eleger o presidente Donald Trump
em 2016. As técnicas eram as mesmas em toda parte, apesar de se tornarem mais
sofisticadas com o tempo.
Vamos refletir, pois, isso tudo faz parte da mesma história, a história do nosso momento e das nossas escolhas.
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