Leonid Brêjniev assumi o poder como líder da União Soviética.
Sua ascensão ocorreu após a remoção de seu antecessor, Nikita Khrushchev. Brêjniev
se revelou o mais importante sucessor de Stálin, porque redefiniu a postura
soviética em relação ao tempo, sepultou a política marxista da inevitabilidade
e a substituiu pela política soviética da eternidade.
Alguns anos depois, em 1999, Iéltsin estava visivelmente mal
de saúde e vivia embriagado, tornando mais urgente o problema da sucessão na Rússia.
Eleições se faziam necessárias para substituí-lo, da perspectiva dos oligarcas,
o sucessor teria que permitir à família de Iéltsin (tanto no sentido
convencional de sua parentela como no sentido russo de oligarcas amigos)
continuar viva e preservar sua riqueza. A “Operação Sucessor”, como ficou
conhecida, tinha um nome de inteira confiança, seu primeiro-ministro Vladimir
Putin. Mas Putin era desconhecido do grande público, portanto um candidato implausível
para cargos eletivos nacionais.
Seus índices de aprovação não passavam de 2%. Por isso, era
hora de criar uma crise para que ele pudesse transmitir a impressão de ser
capaz de resolvê-la. Em setembro de 1999, uma série de bombas explodiu em
cidades Russas matando centenas de civis. Não se descartava a hipótese de que
os responsáveis fossem agentes do FSB. Na cidade de Riazan, por exemplo,
agentes do FSB foram detidos por colegas locais como suspeitos das explosões.
Apesar de a possibilidade de terrorismo interno ter sido levantado na época, as
questões factuais foram superadas pelo patriotismo virtuoso, quando Putin
ordenou uma nova guerra contra a parte da Rússia tida como culpada pelos
atentados: A República tchetchena do sudoeste do país, na região do Cáucaso,
que declarará Independência em 1993 e travou combates contra o exército russo
que acabaram em um impasse. Não havia provas de que os tchetchenos tivessem
alguma coisa a ver com as bombas. Graças à segunda guerra da Tchetchênia, o
índice de aprovação de Putin chegou a 45% em novembro. Em dezembro, Iéltsin
anunciou sua Renúncia e endossou Putin como sucessor. Em consequência da
cobertura televisiva desigual da manipulação da contagem de votos e da
atmosfera criada pelo terrorismo e pela guerra, Putin obteve a maioria absoluta
necessária para ganhar a eleição presidencial de março de 2000.
A tinta que escreve a ficção política é o sangue.
Inaugurou se, dessa maneira, um novo tipo de política,
conhecido na época como “democracia gerenciada”, que os russos aprenderiam a
dominar e depois exportariam. Quem ficou com o crédito pela tecnologia política
da operação sucessor foi Vladislav Surkov, brilhante especialista em relações
públicas de origem tchetchena que foi vice chefe da casa civil de Iéltsin. A
democracia coreografada em que foi pioneiro, na qual um candidato misterioso
usava crises fabricadas para conquistar um poder real, continuou sendo posta em
prática com Surkov assumindo uma série de cargos oferecidos por Putin.
Qualquer semelhança com ações recentes da extrema-direita
brasileira não é mera coincidência e sim uma tática para desestabilizar o atual
governo e assumir o poder.
Assim é a política da eternidade.

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